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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Relato do parto Domiciliar de Ruah

RELATO DE PARTO
Essa semana faz um ano que Ruáh nasceu, é só agora consigo externar tudo que o nascimento dele me trouxe.
Recém-casada, com 21 anos, último ano da faculdade, fazendo estágio e em um exame de rotina que minha médica pediu porque eu queria começar a tomar injeção eu descubro um pequeno ser em mim. Na hora que a médica do ultrassom falou “você está grávida” eu fiquei estática, não sabia o que pensar. Mas ele estava lá, lindo e perfeito, com quase 16 semanas (já  ) e mais ou menos 500 gramas, quietinho sendo gerado em mim. Sai da sala meio tonta com a notícia e encontrei meu esposo que estava lá fora, contei a novidade, ele ficou todo alegre, bobão. Sempre digo que Ruáh não foi planejado, mas desde sempre foi muito amado, e bem recebido por todos a nossa volta.
Voltei em consulta com minha médica e disse: Temos um menino, e quero um parto normal. A resposta dela foi a típica “Se estiver tudo bem vai ser um parto normal”. Não gostei da resposta, eu era primigesta, paciente dela desde minha primeira menstruação esperava que ela me falasse mais sobre como era o parto e os procedimentos, não rolou, esperei a segunda consulta e foi a mesma coisa, então comecei a pesquisar por conta própria.
Na época meu convênio era da Santa Casa, então pretendia que meu parto fosse lá. Quando estava com 24 semanas, tive uma taquicardia enquanto estava trabalhando, a enfermeira do meu serviço me levou de ambulância até a Santa Casa, e aí começou meu terror por esse hospital. Chegando lá a enfermeira do meu serviço foi impedida de entrar no atendimento comigo, ninguém podia entrar, a médica foi fazendo perguntas, enquanto algumas residentes e um obstetra caçoavam de uma mãe que tinha acabado de parir (não vou reproduzir as asneiras que eles falavam), fiquei super incomodada com isso. A médica mediu minha PA, confirmou taquicardia, fez um toque, e fomos auscultar o bebê, ela simplesmente me vira sem nenhum jeito e diz “Mãezinha não tô escutando coração nenhum”, no momento só não entrei em pânico porque ele estava mexendo bastante. Falei para ela tentar de novo, e então ouvi o coraçãozinho do meu bebê. Cheguei no hospital as 10:40h da manhã, só fui liberada com muito custo as 22h, me mandaram da maternidade para o PS porque falaram que meu problema não era na maternidade (Oi?? Estou gestante!!!) enfim, me mandaram de um lugar para o outro, até descobrirem que era uma infecção urinária, logo a taquicardia passou. Nesse dia decidi que não teria meu filho nesse hospital de jeito nenhum, e comecei a buscar outra opção.
Alguns dias depois uma amiga muito querida que está morando longe, Raquel, me chamou para falar sobre o parto, e foi então que descobri o verdadeiro parto normal. Ela me adicionou no Partejar, me enviou diversos links, e então comecei a buscar uma doula.
Comecei a ler muito, recomendações da OMS, MS, blog da Melania (me apaixonei por essa mulher) e alguns outros, inclui o maridão nessa, porque no começo ele achava que era frescura minha não querer uma episiotomia ou outras intervenções.
Escolhi a doula, e começamos a conversar e ver alternativas para o parto. Primeira opção era o Silvério Fontes, o hospital estava sendo receptivo à plano de parto, já tinha alguns relatos de parto natural, e a Graziella que é enfermeira lá e virou uma amiga nessa busca. A DPP do Ruáh era 07/06/2015, e umas semanas antes começou uma reforma no Silvério, e ficou bem difícil as coisas por lá. Ficamos na expectativa da reforma acabar antes dele dar as caras, mas começamos a buscar outras opções. Então colocamos o HGA como primeira opção caso o Silvério não estivesse ok até eu entrar em trabalho de parto.
Com 39 semanas minha médica veio com a desculpa de que se eu não entrasse em tp fosse para o plantão dela na Santa Casa que ela faria uma cesárea porque não queria me ver sofrendo arrastando um barrigão (AFFFFFF). Claro que ela nunca mais me viu hahahaha!
Nesse interim eu já estava em contato com a Rose, porque tinha combinado com a Bruna (doula) que ficaríamos em casa com a enfermeira até o máximo possível para chegar no hospital nos finalmentes.
Com 40 semanas comecei o monitoramento no HGA para já ir me acostumando com o hospital, ia dia sim dia não na maternidade. Estava decidida que iria aguardar o trabalho de parto espontâneo até as 42 semanas, após isso abriria outras opções.
Com 41 semanas o HGA por protocolo queria me internar para indução, eu neguei e a plantonista disse tudo bem, mas que a partir dali precisaria procurar outro hospital, porque no próximo monitoramento eles teriam que me internar. Voltei em contato com a Grazi do Silvério para ir acompanhando lá.
A minha doula também estava grávida, e planejando um parto domiciliar, então durante as nossas conversas na gestação, sempre abordávamos o parto domiciliar. Eu tinha esse desejo, mas tinha medo, por não saber como era o trabalho de parto. Fui conversando com ela, com a Rose e amadureci a ideia, conversei com meu esposo que de inicio achou loucura. A Grazi se propôs a nos acompanhar no domiciliar também.
Com 41+2 fui monitorar no Silvério e a Grazi conversou com a plantonista para ela fazer um deslocamento de membranas para ver se eu entrava em TP já que não havia nenhum sinal. Fui conversar com a Rose no mesmo dia, ela me passou a lista de material necessário para o PD e pediu para fazer um ultrassom para ver como estava tudo, e para ter uma estimativa do peso.
No outro dia acordei super desanimada, algo interno, estava me sentindo cansada, chorei várias vezes durante o dia, uma mistura estranha de sensações. Tentei marcar o ultrassom, não consegui, nenhuma clinica que eu liguei fazia no dia. No início da noite combinei com meu esposo de encontra-lo no Extra de SV para comprar algumas coisas, enquanto estava descendo aquela rampinha que tem na entrada algo estranho aconteceu, e senti que minha calcinha ficou molhada, já pensei minha bolsa rompeu. Fui até o banheiro e dei umas três tossidas e confirmei que era a bolsa, o liquido era transparente e com um cheiro semelhante a água sanitária. Isso era 19:28h do dia 17/06/2015.
Ruáh estava a caminho. Fizemos as compras e fomos para casa, avisei a Bruna, avisei minha mãe. Quis tirar umas últimas fotos da barriga, porque não sabia como seriam as próximas horas.
Jantei, tomei banho, e por volta de 21h comecei a sentir algumas contrações. A Bruna pediu para começar a cronometrar com um aplicativo. As contrações começaram a ritmar. Umas 22:30 a Bruna veio me ver, eu estava tranquila, contrações regulares, mas ainda suportáveis.
A Bruna foi embora e pediu para eu descansar para aguardar o tp ativo. Logo depois vomitei toda a janta, mas fui dormir. Contrações indo e vindo, com ritmo certo, mas eu conseguia descansar. Respirar durante a contração é viiiiiida, como me aliviava, fui levando, estava tranquila, Ruáh estava chegando, no tempo dele.
Umas 3h da manhã pedimos para a Bruna voltar. Ela voltou com aquelas mãos maravilhosas na minha lombar, fiquei um pouco no chuveiro, um pouco na bola e quis descansar. Descansei bastante durante a madrugada, consegui ficar deitada, quando a contração vinha eu respirava e praticamente passava sem sentir dor, vomitei mais algumas vezes e fiquei de estômago vazio. Amanheceu, e logo a Rose chegou. Para nossa surpresa dilatação to-tal!!! Ufa agora é só esperar ele vir. A Grazi também chegou.
(Aqui abrirei um parêntese, o motivo pelo qual demorei tanto para conseguir relatar o meu parto. Assim que a Rose chegou, inesperadamente a minha sogra chegou na minha casa. Ela estava desde as 39s torrando a minha pouca paciência para induzir o parto, encheu muito a paciência nessa espera, e lógico ela não fazia ideia do parto domiciliar, primeiro porque não era da conta dela, e segundo porque eu já imaginava a reação. Pois bem, não sei o porquê ela chegou subitamente em casa. E quando viu tudo sendo preparado para o nascimento ali [nesse momento eu já estava na partolândia, então lembro apenas de nuances, só lembro de muitos gritos] ela surtou. Começou a gritar, falar um monte de coisas para as meninas, para o meu esposo. Nesse momento o clima ficou muito tenso, e quase foi tudo por água abaixo. Foi um barraco, meu esposo teve que coloca-la para fora. A Grazi foi tentar conversar com ela e com meu sogro para explicar que estava tudo bem, meio sem sucesso. Conseguimos deixar eles do lado de fora e voltar para o parto).
Nessa tensão meu trabalho de parto travou. Eu já estava bem fraca por conta dos vômitos e já não tinha muitas forças. A Rose pediu para fazerem um soro caseiro para ver se eu me recuperava. Só queria ficar deitada. Fomos para cama eu e meu esposo a Rose pediu para ele me abraçar e me entreguei só ouvia a voz dela e pensava que Ruáh estava chegando, ele estava vindo.
Recuperei um pouco a força, consegui tomar um suco e segurar. A Rose veio com o rebozo, me ajudou muito. Logo depois comecei a sentir muita vontade de fazer força, muita força, mas estava extremamente cansada. Não conseguia controlar o meu corpo. Foram passando as horas. Me sentia muito respeitada e acolhida por todas, meu esposo foi maravilhoso o tempo todo do meu lado.
Fui mais algumas vezes para o chuveiro, não gostei da banqueta, não queria a bola, eu só queria ficar deitada, me joguei na sala apoiada no sofá. Meu esposo trouxe comida e ia me dando. Comecei a sentir vontade de empurrar desesperadamente, Henrique (meu esposo) viu Ruáh coroando, chamou as meninas que estavam na cozinha. Era a hora, não conseguia acreditar, meu bebê nascendo. Me apoiei no canto do sofá e lá fiquei, meio acocorada, Henrique ficou atrás de mim para me apoiar. A Rose foi me ajudando a fazer força junto com a contração. O círculo de fogo, eu senti, que louco meu Deus dói de mais, foi a parte mais doída para mim. Falei que não tinha forças, que não conseguia mais, só precisava de mais um empurrão, a Bruna vira e me fala “ Jipsa ele é todo cabeludo como você sempre quis” eu sorri e empurrei, ele nasceu. Lindo, meu menino. (15:02h do dia 18/06/2015 40s e 4d)
Eu chorava, sorria, orava, Deus estava ali, foi muito real a graça do Senhor naquele momento, eu fui agraciada com o dom da vida, não conseguia acreditar, abençoava meu pequeno, eu e Henrique chorávamos e o consagrávamos ao Senhor, obrigada por nos entrega-lo, que presente.
Ele não veio imediatamente para o colo, teve uma ruptura de cordão (cordão dele era muito curto), precisou de alguns cuidados. Fomos para o quarto e ele veio para o colo, gente que cheiro maravilhoso, queria ficar uma semana sem dar banho nele. Cheiro de vida. Ele ficou um pouco no oxigênio, logo a Driele também chegou, fez uma massagem para ajudar a saída da placenta. Ruáh estabilizou a saturação, foi pesado 3,790kg. Períneo ok, sem necessidade de suturas.
Nascemos!! Nasceu um bebê, uma mãe, um pai, nasceu uma família.
Renasceu uma mulher.
O parto mudou a minha vida, hoje eu sei mais do que nunca que sou capaz de qualquer coisa. Sei olhar outra mulher com um olhar muito mais empático, eu vejo outro mundo, porque eu sou outra. Meu desejo é que todas consigam parir, com respeito, acolhimento, com informação. Eu não posso empoderar nenhuma mulher, mas eu posso ser a ponte para o empoderamento dela, e eu quero e serei essa ponte para todas que eu encontrar no caminho.
Gratidão, a todo o grupo, especialmente a Raquel, Bruna, Rose, Grazi e Driele .
Gratidão ao meu amado, que embarcou comigo com todas as forças Henrique 

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